terça-feira, 8 de novembro de 2011

ESPLANADA


Fim de tarde, e mais uma vez aqui me encontro nesta esplanada de frente para o mar. Poderia ser mais um fim de tarde como tantos outros mas hoje é diferente.
Antes de me sentar fico parado de livro na mão a ver o mar revolto ou não fosse hoje dia 15 de Dezembro, não é por ser o dia, mas pelo mês em questão, todos sabemos que o mar de inverno fica diferente é como se tivesse dupla personalidade...
Aqui sentado de frente para o mar, de livro na mesa e chávena de café na mão olho as pessoas em volta que por ali passam e tento imaginar um pouco das suas vidas.
Hoje dou-me a reparar numa senhora de meia idade, e fico a pensar qual será a sua história de vida, o que a levou até aqui hoje, será que tem filhos, netos, será solteira, viúva....
Não sei se serei o único a ter este tipo de pensamentos, mas gosto de pensar que não, ou iria-me sentir um extraterrestre. Mas voltando a senhora de meia idade, deixem-me que a descreva pois acho que merece ser imaginada com alguns detalhes, estatura media, um pouco gordinha, cabelo grisalho, roupa escura como qualquer outra senhora dessa idade e com um pequeno cão pela mão, voltada para o mar a ver a espuma das ondas em quanto o animal tenta desalmadamente prosseguir a caminhada.
Resta saber o que pensa enquanto observa o horizonte, uma história de vida que pelos meus olhos passou, se a voltarei a ver não sei, mas que me meteu a pensar, isso meteu.
Com tudo isto o fraco sol que se apresenta por estes dias já se foi deitar, isto se ele alguma vez hoje chegou a se levantar, e eu nem reparei. Pego no meu café que por esta hora está como o tempo frio, mas quem me manda perder-me com a vida alheia?!
Não era justo sair desta esplanada sem sequer ler uma única estrofe de um poema, aqui deixo a que li para que possa ser lida com o mesmo sabor e intensidade com que os meus olhos passaram por ela.

Beira-Mar
Mitológica luz da beira-mar
A maré alta sete vezes cresce
Sete vezes cresce o seu inchar
E a métrica de um verso a determina
Crianças brincam nas ondas pequeninas
E com elas em brandíssimo espraiar
Em volutas e crinas brinca o mar

Outubro de 1997 Sophia de Mello Breyner Andresen