segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Ainda Noite


Ouviste ou sentiste a minha presença.
Estive deitada ao teu lado, como tantas vezes, antes de...
Abraçava-te e ficava a ver-te dormir. Tantas vezes fiz isto que é como uma segunda natureza acompanhar o teu corpo com o meu, na cama. Abraçar-te e repousar a minha mão no teu peito.
Agora a minha mão perde-se no vazio, atravessa-te livremente e tu sentes um arrepio, uma friagem que daquele ponto emana ao resto do teu corpo. Foi isto que sentiste?

Estou cada vez mais ténue, mais diáfana, vou desaparecendo, eu sei. Um dia vou desvanecer-me de vez e nem vou perceber. Deixarei de pensar, deixarei de falar, deixarei de sentir... no dia em que me esqueceres.
Às vezes creio que seria melhor... esquecer. Devias ter uma outra vida, não ficar preso a memórias. Sinto que assombro a tua existência, alimento o teu amor e amando-me, tu alimentas o meu exílio neste limbo. Será isto o meu purgatório? Se é o meu, é o teu também, porque deves sofrer igualmente esta solidão.

Quando voltaste a adormecer, passados aqueles instantes em que abriste os olhos e ficaste quieto a fitar o tecto do quarto, eu acariciei-te o rosto sem te tocar. Quando os meus dedos se aproximaram da tua pele surgiu um halo, uma réstea de luz e depois, tu sorriste.
Só à noite estes mistérios podiam acontecer, só à noite eu surjo, porque só a noite proporciona o contraste de que o meu espírito necessita para existir. Foi de noite que fomos mais felizes!

Uma noite destas, quando o meu amor por ti for intolerável, vou deitar-me ao teu lado e unir-me a ti até este pó impalpável, difuso, de que sou feita, se confundir em ti. Assim, terei a certeza de que nunca mais te vou abandonar e tu serás um só novamente.

Sem comentários:

Enviar um comentário